Meditações Cristãs e Metafísicas (1683) apresentam, na sua versão mais condensada, as grandes linhas de um sistema filosófico original, que assume problematicamente o legado cartesiano, subvertendo ou reformulando doutrinas emblemáticas do cartesianismo: estatuto fundador do cogito, imanência das ideias do sujeito pensante, criação das verdades eternas. Malebranche assume o cogito como a experiência que o eu pensante faz de si, aquém da dualidade sujeito-objecto. A opacidade da consciência, interpretada como sentimento de si, contrasta com a luminosidade da ciência, pautada pela evidência racional. Com efeito, sujeito e inteligibilidade não coincidem: as concepções do nosso espírito são algo distinto das ideias por ele visadas. Tal como Descartes, Malebranche considera a união como o fenómeno essencialmente distinto do ser humano, mas num sentido oposto ao cartesiano: a união não se afecta entre alma e corpo, mas entre o espírito particular e a Razão universal. Razão é a comunidade, fonte de comunicação entre os espíritos. Necessariamente particular, o pensamento é vincula comunitário, que prepara para a união mais íntima, aquela que nasce da contemplação da beleza û o amor
